Esse material foi encontrado na net pelo Agente Ângelo Jhonathan... parabéns agente pelo empenho no trabalho.
Foi matéria do Jornal O mossoroense que entrevista dois ex-detentos do Caldeirão do Diabos que respondem sobre o dia-dia no presídio.
Detento Picachu e detento Djavan.
Confiram na íntegra:
Lembranças do 'Caldeirão do Diabo' |
Este mês, o pavilhão fechado da 'João Chaves' foi demolido e alguns presos transferidos para presídios da região, inclusive para Mossoró. O jornal O Mossoroense entrevistou um desses presos, o Chileno da Silva Agostinho, o 'Picachu', que contou como funcionava a lei da cadeia, falou da entrada de drogas e como aconteciam as fugas. Acompanhe a entrevista. O Mossoroense - A quantos anos você foi condenado? E por quê? Chileno da Silva - Eu fui condenado a sete anos por um homicídio. OM - Quantos anos você ficou na João Chaves? CS - Eu fiquei lá seis anos e quatro meses. OM - Como funciona a lei na cadeia? CS - Lá rola a lei do silêncio. Você tem que escutar e ficar calado. Ver e não dizer nada. OM - E com relação a drogas, como entra na cadeia? CS - Lá tem de tudo, maconha, crack, cocaína e bebida. A droga entra nos dias de visita. As mulheres dos presos levam na vagina. OM - Com quantos presos você ficava na cela? CS - Era eu e mais sete. OM - Durante o tempo em que esteve lá, você presenciou alguma fuga? CS - Sim. Uma vez fugiram 16 na marra. Eles estavam com pistola e espingarda calibre 12. Dessa vez teve um que foi ferido na troca de tiro. Quinze dias depois teve outra fuga. OM - E alguma morte? CS - Uma vez teve um problema com um dos presos por causa de 'caguetação'. Quando foi no banho de sol ele foi cercado quando saía da igreja e foi morto. OM - Quem assumiu essa morte? CS - Foi um 'laranja'. Eles disseram ou você assume ou morre. Então ele pegou a faca e se sujou de sangue e assumiu. Era o único jeito de não morrer também. Lá existia a cela do cemitério. OM - Como assim? CS - Era o local onde os presos colocavam quem morria. Eles cortavam em pedaços, colocavam num saco e enterravam. OM - Como eram escavados os túneis? CS - A gente fazia uma 'bacia' na cela e começava a escavação. Cavava seis metros para baixo e depois iluminava com lâmpadas, colocava ventilador e por aí vai. OM - Onde era colocada a areia? CS - A gente escondia debaixo das camas e colocava nos pavilhões que estavam vazios. OM - Não havia inspeção nos pavilhões? CS - Não. Porque as galerias eram arrombadas e os guardas não iam até lá. Eles tinham medo e só iam até as primeiras galerias. OM - E esses túneis não eram descobertos? CS - Só quando havia alguma 'caguetação' de algum preso. OM - Havia a conivência de algum policial? CS - Às vezes. Em todo canto tem a máfia, né? Mas a partir de 2002 quando chegaram os agentes carcerários as fugas e outras coisas lá diminuíram. Antigamente era mais fácil. OM - Existiam facções lá dentro do presídio? CS - Sim. Tinha um grupo denominado de 'Turma do Gueto' que era formado por 8 a 12 presos condenados por latrocínio, condenados a 25, 30 anos de prisão. Eles não tinham nada a temer e viviam extorquindo os outros presos e tentando fugir. Quem resistisse ou denunciasse era morto. No dia das visitas eles tomavam as coisas dos outros. OM - O que aconteceu com eles? CS - A família de alguns presos denunciou eles e a direção transferiu eles para Alcaçuz porque estavam aprontando muito lá dentro. OM - Como era a divisão de presos? CS - Na cela do Morro de Mãe Luiza ficavam oito, das Rocas mais outros e por aí vai... OM - E com relação a estuprador. Como era? CS - Estuprador não tem vez na cadeia. Eles tinham que ficar bem quietinhos e servir de mulher para os outros presos. Vestir calcinha, lavar roupa, raspar a cabeça e tudo mais. Aqueles que não tinham visitas íntimas faziam eles de mulher. É a lei da cadeia. OM - A todos os presos? CS - Sim. Do pavilhão 1 até o 20. Era para todos. OM - E durante as visitas, o que acontecia com eles? CS - Eles ficavam bem quietinhos num canto da cela. Não podiam nem olhar pro corredor. OM - Não tinha como eles ficarem isolados? CS - Não, porque tudo era aberto. A João Chaves era um verdadeiro queijo suíço de tanto buraco. Quando os presos queriam matar alguém eles matavam. OM - Na cadeia existem várias gírias. Cite algumas. CS - Droga era café; celular é rádio; estuprador é menino e polícia é óleo. OM - Existe um líder nas celas? CS - Sim. Os mais velhos é que mandam nos pavilhões. Exemplo: Brinquedo do Cão era o líder porque era o mais velho lá. OM - Você passou por alguma situação difícil por lá? CS - Sim. Eu trabalhava na faxina e os presos queriam que eu fizesse 'avião' pra eles. Eu me recusei porque minha pena era curta e quase fui morto. OM - Como assim? CS - Eles pediram pra eu falar com os guardas pra colocar um quilo de maconha pra dentro. Eu me recusei e por isso durante um banho de sol apanhei muito deles. OM - Tem muita mulher presa por lá? E elas tem contato com os outros presos? CS - Sim. 56 mulheres cumprem pena por crimes diversos. Na quarta-feira boa parte delas vai pro pavilhão masculino servir os presos. OM - E as visitas são respeitadas? CS - Sim. Quem não respeita morre. Uma vez dois dos presos foram pegos se masturbando no banheiro depois da visita e quase morreram de tanto apanhar. A visita é a coisa mais respeitada na cadeia. OM - E aqui na Mário Negócio como é? CS - Aqui é bom demais porque não tem esse negócio de ningúem mandar não. Aqui todo mundo é igual. Outro preso que também guarda algumas lembranças da João Chaves, é José Faustino de Sá, 35 anos, o 'Djavan', que passou três anos preso acusado de tráfico de drogas, no ano de 1995. O Mossoroense - Que lembranças você guarda do tempo em que ficou preso por lá? José Faustino - As lembranças são de algumas amizades que eu fiz. Alguns eu vi serem mortos sem eu fazer nada, senão eu morria também. OM - Exemplo? JF - Tinha Chocolate, que foi que matou Demir, Acácio e outros por lá. Quando eu cheguei fui colocado na cela dele e logo fizemos amizades. OM - Por que ele matou Demir, você sabe? JF - Rapaz, tudo começou com a briga por causa de uma arma. Tinha noite que ele acordava assustado, dizendo que estava sonhando que tava matando Demir. Então, ele dizia: "Tenho que matar ele, senão eu vou enlouquecer". Então, ele foi e matou ele. OM - Você presenciou alguma morte? JF - Sim. A de Chocolate. Os caras pegaram e mataram ele com golpes de cossoco e pauladas durante um banho de sol. Teve também a de 'Canindé do Mereto'. Ele morreu por causa de vacilo. Ele tava agüentando o pessoal e os presos não admitiam isso. Teve também Naldinho, Paulo Queixada, Paulo do Detran e outros. OM - Você tem pesadelos por causa do tempo em que passou por lá? JF - Sim. Tem noite que acordo assustado vendo os policiais invadindo os pavilhões. OM - Qual a lição que você tirou desse tempo que esteve preso? JF - A lição é que consegui sair de lá com vida. E agora quero é terminar de criar a minha família. Ainda hoje tenho pesadelos. Me acordo assustado, mas estou me recuperando. Fonte: O Mossoroense Um depoimento de um leitor do blog: esse ex detento mentiu em um bocado de coisa.primeiro quem matou chocolate não foram os outros presos.chocolate morreu numa tentativa de fuga,nessa fuga morreu ele e mais sete detentos.ainda me lembro de alguns,como xico bento e outros.e paulo do detran,se não me engano ainda está vivo. |
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